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Domingo, 25 de Junho de 2023 | Horário: 10:30

Vila Reencontro completa seis meses colecionando histórias de recomeço

Em pouco tempo de funcionamento, serviço inovador de acolhimento a famílias em situação de rua cria ambiente acolhedor com oportunidades de conquista da autonomia

O que significa receber a oportunidade de reconquistar a dignidade, a capacidade de sonhar e de realizar? Histórias assim estão sendo construídas, dia a dia, nas Vilas Reencontro ‘Cruzeiro do Sul’, no Canindé, e ‘Anhangabaú’, no centro.   

Inspirada no modelo Housing First (Moradia Primeiro), criado em países como Canadá, Finlândia e Estados Unidos, a iniciativa tem como ponto de partida a moradia transitória para pessoas em situação de rua. E neste dia 24 de junho, a unidade do Canindé, primeira a ser implantada, completa seis meses de funcionamento. A vila conta com 40 casas modulares de 18 m², equipadas com fogão, geladeira e ventilador de teto, além da mobília montada de acordo com a configuração da família. Ao redor das casas, há playground, horta comunitária, cozinha toda equipada e lavanderia. Cada casa tem capacidade para abrigar até quatro pessoas. 

 As Vilas Reencontro, criadas pela Prefeitura, por meio da Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social (SMADS), e administrada pela ONG AVSI, estão sob o guarda-chuva do Programa Reencontro, que tem três eixos de atuação: Cuidado, Oportunidade e Conexão.  

Com meio ano de existência, definir como está sendo vivenciar essa nova experiência de acolhimento tem recortes distintos para as pessoas acolhidas, mas há uma característica em comum: a sensação de estar no caminho mais próximo para a conquista da autonomia.

 

Cuidado - “Uma coisa que é simples para todo mundo, para mim foi um choque: eu entrei na casa e tinha uma geladeira”, afirma Luiz  

Para Luiz Henrique dos Santos, situações que podem ser consideradas corriqueiras, mas que já não eram mais vivenciadas, voltaram a fazer parte da rotina da família.  

“Vivemos um ano sem geladeira! Isso foi o símbolo de uma retomada para nós. Apesar de ter sido para mim um tempo longo, para outras pessoas um ano, pode não significar muito. Mas nesse período, eu perdi completamente o senso de ter a minha casa, ir ao mercado comprar alguma coisa e saber o preço das coisas, ter a minha autonomia”, conta Luiz.  

Ele arremata: “Parece que a mente da gente abre e aí começamos a focar em outras coisas como o trabalho, conversar com pessoas diferentes, isso tudo com a ajuda do programa. Tudo o que eu perdi lá atrás, eu reencontrei aqui na Vila”.  

Já para Cintia dos Santos Freitas, grávida de sete meses, estar acolhida com sua família na Vila significa, além de ter segurança e conforto de um lar para recomeçar, a experiência de poder cuidar dos seus filhos dignamente. "Agora não terei mais o problema de pensar: ‘meu filho vai nascer e será que eu ainda estarei nessa casa?’ Foi como aconteceu com o Antony (filho mais velho). Foi muito difícil, e agora com o bebê que está vindo, eu tenho o sentimento de que sairei do hospital e irei para a minha casa, estou indo para a Vila Reencontro, que é minha casa. Dessa vez, eu vejo que vou viver mais a maternidade, vou ter um cantinho para cuidar do meu filho sem medo de amanhã ter que mudar de lugar", diz.  

São histórias que estão sendo construídas através de uma nova metodologia de acolhimento, que estabelece perspectivas reais para a conquista da autonomia de famílias que estavam em situação de rua, levados a essa condição, sobretudo, pelos impactos causados pela pandemia de Covid-19. “A Vila é a definição de amor pra mim, é poder estar com a minha família em um lugar seguro e nosso”, conclui Jaqueline de Andrade, que está acolhida na Vila Reencontro Cruzeiro do Sul com seu marido e filha.   

 

Oportunidade - “Minha meta é terminar os estudos e aqui eu sei que vou ter espaço para conseguir”, afirma Cleber Fernandes  

O acolhido Cléber Fernandes afirma que, para além do emprego, quer se qualificar melhor para o mercado de trabalho. “Aqui eu consegui a oportunidade de participar do POT, que não conhecia, mas que está sendo ótimo pra mim, e fui incentivado a me inscrever no ENCCEJA”, comenta.  

O Exame Nacional para Certificação de Competências de Jovens e Adultos, mais conhecido como ENCCEJA, é uma prova do Instituto Nacional de Ensino e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) para obtenção dos certificados do Ensino fundamental e Médio. Já o Programa Operação Trabalho (POT) é uma iniciativa da Prefeitura de São Paulo que proporciona oportunidade de trabalho a pessoas em situação de vulnerabilidade socioeconômica.  

Dentro da Vila já foi realizado mutirão para cadastramento em vagas de emprego, capacitação para entrevistas e preparação de currículos, que contou com o apoio das equipes técnicas da Vila.   

Quando Marta Rodrigues da Mota chegou na Vila, ela tinha uma expectativa. “Vim para cá na intenção de principalmente conseguir um emprego. Estou há quatro meses aqui e já consegui”, comemora. “Tenho duas filhas que estão encaminhadas para trabalhar também, uma faz parte do POT e a outra foi chamada para o jovem aprendiz. A Vila tem me ajudado bastante, os horários de entrada e saída são flexíveis, sem problema nenhum. Gosto muito daqui, é bem sossegado”, finaliza Marta.   

Ter expectativas com relação ao que fazer e onde trabalhar também era algo muito claro para Jenneferly da Silva Vieira. “Eu queria muito trabalhar com o Consultório na Rua, até que um dia eu vi no mural de informações que temos aqui na Vila um aviso sobre inscrições abertas para trabalhar na BomPar. Eu fiz todo o processo para conseguir trabalhar com o que eu queria, que era trabalhar no Consultório na Rua, e eu não desisti em nenhum momento porque queria muito”, destaca.   

Jenneferly provou que era uma questão de acreditar. “Hoje eu estou na BomPar como agente de saúde já vai fazer 2 meses e estou muito feliz! Eu também vou fazer minha matrícula na faculdade para cursar Serviço Social. Para mim é muito mágico, porque ano passado eu não tinha nem Ensino Médio e, esse ano, eu vou fazer faculdade”, relata com um sorriso largo de satisfação.  

“A Vila Reencontro pra mim é um marco na minha vida e eu espero que um dia eu possa voltar aqui pra ajudar outras pessoas como eles me ajudaram”, completa. 

 

Conexão - “Se eu moro aqui, as minhas filhas moram aqui, eu sei que preciso ajudar a limpar, pra manter o lugar limpo e organizado”, diz Gilmara Rodrigues Gonçalves  

As equipes multidisciplinares da Vila auxiliam no desenvolvimento interpessoal e comunitário das famílias. São organizados coletivos que ajudam na Conexão entre as pessoas que moram na Vila, além de desenvolver o senso de responsabilidade e devolver a voz ativa que a rua subtrai.   

“Cada trabalho que é feito aqui dentro é importante para a nossa construção e para manter a Vila organizada, porque se não estiver, como é que as crianças vão brincar? Os coletivos são importantes e necessários no nosso dia a dia”, afirma Gilmara.   

Os acolhidos são convidados a participar da estrutura de cogestão da Vila Reencontro, atuando em coletivos, tais como o de limpeza e manutenção do espaço, de cozinha, de horta e área verde e de lavanderia.   

Todos os coletivos são formados de acordo com o perfil e disponibilidade da população adulta atendida, com adesão voluntária em assembleias comunitárias que são realizadas semanalmente.   

Os voluntários recebem certificado de participação, contribuindo com seu currículo profissional. A cogestão inclui o pensar e o fazer coletivo.  

Gilmara já entendeu muito bem esse papel fundamental da Vila de conectar pessoas e histórias. “A gente tem que entregar esse lugar para as futuras famílias que virão para que elas tenham a mesma sensação que eu tenho agora: estar em casa”. 

 

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