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Domingo, 7 de Fevereiro de 2021 | Horário: 10:27

Médica revela os desafios da coordenação de uma UTI covid

Kátia Conde realizou o sonho de se formar em Medicina e hoje encara o maior desafio da carreira, à frente de uma das cinco UTIs do Hospital Municipal Dr. José Soares Hungria, em Pirituba, na Zona Oeste

Os desafios na área da saúde começaram ainda na infância para Kátia Aparecida Pessoa Conde quando, aos cinco anos de idade, precisou enfrentar algumas doenças como toxoplasmose, amidalites de repetição e fortes anemias, que transformaram visitas a hospitais em uma árdua rotina. Entretanto, o cuidado e acolhimento recebido pelos profissionais durante os tratamentos despertaram na menina um sonho: ser médica.

Hoje, aos 58 anos de idade, a médica intensivista não apenas se considerada realizada, como também encara o maior desafio de sua carreira à frente de uma das cinco Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) do Hospital Municipal Dr. José Soares Hungria, conhecido como Hospital Pirituba, na Zona Oeste, voltadas exclusivamente a pacientes com Covid-19. Uma das mais difíceis missões que ela e sua equipe receberam foi cuidar dos colegas, servidores e seus familiares internados no hospital. “Nossa UTI era a mais antiga e, talvez por isso, muitos colegas pediam para ser transferidos para lá. Embora atenda em UTI há 27 anos e sempre tenha atuado com casos gravíssimos, esse foi o maior desafio da minha carreira, porque todos os dias estávamos cuidando de pessoas próximas, queridas”, afirma.

Entre os atendimentos marcantes que vivenciou no auge da pandemia no ano passado, a intensivista destaca o de um colega médico com cerca de 50 anos de idade, filho de um reconhecido servidor, com cirurgia cardíaca e de tórax de quase 90 anos, afastado de suas atividades no hospital por ser de grupo de risco. Ela diz que mesmo tendo convênio, ele optou por se tratar no Hospital Hungria e, durante o agravamento da doença, precisou ser intubado. Mas graças ao suporte e dedicação de toda a equipe, conseguiu se recuperar e hoje está bem.

Os casos mais tristes, segundo a profissional, foram aqueles que não puderam ser atendidos ou que já chegaram muito agravados. Um deles é o de uma aposentada daquela unidade hospitalar que chegou à unidade já em estado muito crítico e não resistiu. A médica lembra que esse episódio desestabilizou o emocional dos funcionários, que sentiram muito a perda da amiga servidora, e que foi preciso união para que todos pudessem se reerguer e seguir em frente no enfrentamento à covid-19.

Com a voz embargada, ela relata também o caso de um médico, ex-funcionário do hospital. “Ele estava internado em um hospital particular e todos os dias pedia para ir para a nossa unidade, mas estava em estado tão grave que não foi possível nem fazer a transferência e ele infelizmente não resistiu. Essa foi a nossa maior derrota, uma pessoa que confiava no nosso serviço e não conseguiu usufruí-lo”, lamenta. “Mas felizmente a grande maioria dos pacientes que atendemos sobreviveu graças ao suporte de qualidade e à equipe comprometida e competente que temos, da auxiliar de limpeza ao médico”, complementa.

Ao saber que a UTI sob sua coordenação desde 2007 seria transformada em unidade covid a médica, juntamente com a direção do hospital, começou a adequar a estrutura física para possibilitar o isolamento respiratório necessário. “Desde janeiro começamos a traçar as estratégias para modificação da estrutura física da unidade e na quarta-feira de carnaval finalizamos o levantamento das necessidades de insumos e medicação para atender a esses pacientes graves, que ainda não conhecíamos, mas já esperávamos.” O Hospital Hungria começou receber acometidos pela covid-19 em março do ano passado e em abril foram admitidos os primeiros pacientes na UTI sob a gestão de Kátia.

Estar no comando de uma UTI durante a pandemia causada pelo novo coronavírus impôs, além do aprendizado e da carga de estresse inerente à função, uma nova rotina de cuidados no trabalho e em casa. A médica, que foi contaminada pelo coronavírus em junho, conta que foi necessário manter distanciamento social em sua residência desde o início pois seu marido, Carlos Alberto Vasconcelos, faz parte do grupo de risco. Durante todo esse tempo teve a ajuda do filho Carlos Henrique e do marido em casa. Além disso, ressalta que ficou quase um ano sem ver a filha Tamara, que está morando na Alemanha e só pôde vir ao Brasil no período do Natal.

Kátia diz que uma das principais lições de vida que a pandemia trouxe foi a gratidão. “Sempre fui grata e hoje sou ainda mais grata por tudo, pelo que passei de bom ou de ruim, por tudo o que aprendi. Dar mais valor ao que gente tem faz com que a gente cresça.”

Como estão na linha de frente, ela e os integrantes de sua equipe foram uns dos primeiros vacinados pela Secretaria Municipal da Saúde (SMS). “Nos sentimos mais seguros após a vacinação. A sensação é de alívio, otimismo e esperança de que tudo isso vai passar, de que tempos melhores virão.”

A luta pela formação
E se tem algo a que essa paulistana dá valor é ter contado com o apoio da família para se graduar em Medicina. Ela começou a trabalhar ainda na adolescência, aos 14 anos, em uma loja de armarinhos. Aos 15, trabalhou com uma prima, advogada, exercendo tarefas gerais que iam desde recepção no escritório a levar documentos ao fórum. Atuou também como secretária júnior após concluir o Ensino Médio. Mesmo empregada e recebendo diversas propostas de trabalho, a jovem não desistiu do seu sonho e permaneceu estudando para o vestibular de medicina.

Kátia se recorda que seus familiares achavam bonita a forma convincente que, quando criança, dizia que seria médica e que eles também foram o alicerce para concretizar o seu desejo profissional. Aos 17 anos ingressou na Faculdade de Medicina de Campos, no município de Campos dos Goytacazes, Rio de Janeiro. “Éramos de classe média baixa e sempre tivemos muita dificuldade em tudo mas, com a ajuda da minha mãe Eny, meu irmão Kleber e de toda a família, conseguimos alcançar o êxito.”

Concluiu a graduação aos 23 anos e iniciou, em seguida, a residência em cirurgia e terapia intensiva. A profissional explica que na época a terapia intensiva ainda não era considerada uma especialidade, mas que acompanhava, desde a graduação, a unidade de pacientes críticos.

Em 1993 participou, em Campinas, de um curso de aprimoramento em terapia intensiva na Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas (FCM – Unicamp). Em novembro do mesmo ano ingressou, por meio de concurso público, na Prefeitura de São Paulo. Atuou inicialmente no Hospital José Soares Hungria, em Pirituba, na Zona Norte. Em 1995 foi transferida para o prédio administrativo da Regional da Freguesia do Ó, para prestar atendimento ambulatorial aos servidores e munícipes. Em 2001 retornou ao Hospital Hungria, onde permanece até hoje.

Kátia por Kátia
Gosta de cozinhar, viajar e estar cercada de amigos. Seu hobby é dançar e se considera uma pessoa muito alegre. Em 2021, Kátia revela que gostaria de viajar, confraternizar mais e espera que com o início da vacinação a situação fique mais tranquila e seja possível estar mais próxima das pessoas de novo.

Estudiosa, gosta de ler e já concluiu uma pós-graduação em nutrologia e fez cursos de aperfeiçoamento em cuidados paliativos na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), gestão do Sistema Único de Saúde (SUS) na Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e mestrado na Universidade Federal São Paulo (Unifesp).

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